A Interatividade no ambiente natural como processo de construção da Consciência Ambiental.
Conforme a pedagogia Walloniana que, considera que o sujeito construí-se nas suas interações com o meio: “Wallon propõe o estudo contextualizado das condutas infantis, buscando compreender em cada fase do desenvolvimento , sistemas de relações estabelecidas entre a criança e o ambiente”, GALVÃO,l em (Henri Wallon - Uma Concepção dialética do Desenvolvimento Infantil), e sendo o ambiente natural um meio ótimo e possível para que ocorra esses sistemas de relações ou interações , então , não se pode abrir mão dessa possibilidade. Considerando-se a interatividade o processo pelo qual passa a verdadeira aprendizagem, acreditou ser ela a chave para a compreensão dessa visão de totalidade que aspiramos.
Em Teoria Geral da Interatividade (NASSER-J.M.), a “interatividade” pode ser definida como “o atributo de duas entidades que se relacionam”. Tendo a interatividade como processo de construção dessa consciência holística ( holístico - do grego holos , ‘totalidade’ , refere-se a uma compreensão da realidade em função de totalidades integradas cujas propriedades não podem ser reduzidas a unidades menores ), que almejamos alcançar sobre o ambiente, devemos levar em conta principalmente o meio onde essas entidades entre si e com este vão interagir. A interatividade depende mais dos sentidos que da razão. Numa sala de aula o aluno interage com o ambiente que o cerca, nesse caso com exceção dos colegas e do professor, esse ambiente (sala de aula tradicional), é artificial, (entendendo-se ambiente artificial, como aquele transformado pelo homem, não natural). Como resultado essa interação gerará atributos artificiais. Para construção do saber holístico, do ponto de vista da aquisição da consciência ambiental, toda interatividade artificial , (com objetos artificiais ou em meio artificial) é negativa. Só pode haver interatividade positiva, quando os dois objetos que entre si e com o meio interagem, façam parte desse meio. Entre homem e máquina, só pode haver uma interatividade não natural, portanto negativa. Toda interatividade negativa não pode ser suportada pelo organismo por longos período de tempo sob pena de provocar sérios distúrbios orgânicos e emocionais (estresse). A única interatividade salutar do ponto de vista do equilíbrio orgânico do ser é aquela que ocorre entre homem e meio natural. Acreditamos ser o aprendizado através da interatividade negativa, fator gerador dessa ética civilizatória ocidental no mínimo discutível, ou seja, valores humanos baseados apenas no ter e no poder, abdicando o ser e o saber.
Se propomos compreender o ambiente natural , então nossos alunos deveriam interagir também e preferencialmente com e nesse meio . Um exemplo didático embora não ecológico: “é como ensinar informática , sem usar o computador”. Ou, um exemplo filosófico: “é como ensinar o que é a cor vermelha a um cego de nascença”. O que quero dizer é que a interatividade possível de nos levar a compressão dessas relações ambientais só é possível fora desse meio (sala de aula), onde ocorre o ensino aprendizagem tradicional. Na verdade, essa compreensão independe de conhecimento científico, ou seja do saber elaborado, digamos que ela relaciona-se ao universo místico do ser humano, é o sentir, mais como se ter fé. Pôr isso é tão comum admirar-se dos índios pelo amor-devoção que sentem e dedicam à natureza. Os índios, embora nunca tenham lido um livro ou adquirido qualquer conhecimento científico formal, compreendem as relações que se dão no ambiente. Essa é a diferença: Eles vivem inseridos no ambiente , são o próprio ambiente natural.
O homem quando em seu meio natural, tem os mesmos predicados que o homem urbano ou civilizado. Possui razão e sentidos e os usa de forma natural sem dar preferência a um ou outro. Recorrendo a filosofia platônica, poderíamos dizer que esse indivíduos (os índios) não se alienaram, nem ao mundo das ideias, nem ao mundo dos sentidos. Diferente é o homem ocidental dito civilizado, que seguindo sempre a marcha do progresso, seguem também as ideologias de plantão. Ora sucumbem ao mundo das ideias (apriorismo radical), ora naufragam no mundo dos sentidos (empirismo radical). Todas as ideologias ocidentais, sem exceção, são calcadas no racionalismo de Platão, Descartes e Leibniz, até porque o termo “ideologia” refere-se a um conjunto de ideias que não se revelam na realidade, apenas na mente humana. Aristóteles, que pôr assim dizer valorizou os sentidos ou seja a natureza, apenas organizou as ideias para interpretar os sentidos, mas sempre segundo uma lógica racional. Usou os sentidos apenas para valorizar a razão. Todo o pensamento empírico derivado de Aristóteles, passando por Locke, Hume e Kant, não conseguiriam realizar uma Epistemologia do pensamento humano se não utilizassem as asserções “a priori” (racionalista) . Mesmo conhecendo a importância da razão na evolução da espécie humana, como educador, tenho que reconhecer, que ela também tem levado nossa espécie a verdadeiros becos sem saída. Toda vez que o homem se apropria da razão, isto é se civiliza, se urbaniza. Parece precipitar para o fim. Veja o quadro da História Universal. Afinal, porque as grandes civilizações do passado desapareceram? O que havia de errado com elas que não deram certo? Será que foi o modo e o meio a partir da qual seu pensamento racional evoluiu? Será que valorizaram muito essa inteligência racional? E nós, será que não valorizamos ao extremo o nosso pensamento racional científico? Até o momento, nossa civilização teve mais sorte, a ponto de tornar o Planeta uma só aldeia, o que também parece ser muito perigoso para a sorte do Planeta.
Diante do atual quadro vivido pela Biosfera, o que não é o caso de especificarmos aqui, resta nos questionar se esse modelo de inteligência desenvolvido pelo homem tecnológico é satisfatório. Será que o homem teria desaparecido enquanto espécie se não tivesse desenvolvido a razão? Será que só homem é inteligente? E as outras espécies, não possuem alguma forma de inteligência? Algumas em matéria de sobrevivência parecem até mais inteligentes que o homem. Como se explica o fato de manterem-se vivas, perpetuarem-se enquanto espécie e adaptarem-se ao meio? É necessário que, principalmente nós educadores façamos uma releitura da ciência desde os seus primórdios: do homem coletor - predador primitivo ao homem tecnológico (depredador), das primeiras comunidades naturais, até nossa civilização das grandes metrópoles artificiais. Haveremos de entender que independente de qualquer filosofia ou ideologia, o homem sempre fez ciência. Mesmo quando no passado, o homem separou Deus da Natureza, colocando- o sobre todas as coisas e desprezando a segunda, ele fez ciência. Só hoje, talvez tardiamente, quando ele redescobre a unidade entre Homem - - Deus - Natureza ele reaprende que a verdadeira ciência o homem só faz quando a natureza diz sim, e até o presente ela quase sempre tem dito não.
Não existe homem sem razão. Não existe vida sem sentidos. Todos os seres vivos pôr mais simples que sejam devem possuir algum tipo de sentido. - Poderíamos dizer algum tipo de inteligência? - Caso contrário não existiriam. Se somos sabedores que tanto razão (idéias inatas), quanto a experiência são importantes na constituição do ser humano, então porque privilegiar um em detrimento de outro? A única possibilidade de construirmos o conhecimento holístico é unindo razão e sentidos. A ciência não é gaia nem é geia antes ela é Paidéia. Por tudo isso tente não privilegiar com excesso a razão, deixando espaço para que nossos alunos sempre em contado com o meio natural, possam assim, fazer pleno uso de seus sentidos em interatividade plena com seu meio natural.
FUNDAMENTAÇÃO de Monografia referente ao curso de “Especialização em Fundamentos e Metodologia do Ensino de Ciências 1° e 2º Graus”. - Professor Vicente Jerônimo de Oliveira
Fontes: Texto de: "Proposta de uma visão holística da ciência para o exito em educação ambiental":
http://ideiaquilvicenda.blogspot.com.br/2012/10/proposta-de-uma-visao-holistica-da.html