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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

A invasão Branca: O caso Time-Life e o nascimento da Globo


Disney comendo pato no Rio, 1959


Doutrina Monroe: A América para os americanos do norte (USA)
continuação:
-O caso Time-Life e o nascimento da Globo
Surge a Rede Globo e o caso Time-Life



                  O caso Time-Life - A INVASÃO BRANCA
A Rede Globo foi inaugurada no dia 26 de abril de 1965. Os Diários Associados, que faziam campanha contra a presença de capital estrangeiro na mídia brasileira, denunciaram a existência de um acordo entre Roberto Marinho e o grupo Time-Life, que detinha alguns dos maiores veículos de comunicação do mundo.

Após diferenças entre Marinho e o governador Carlos Lacerda, este mandou prender norte-americanos e cubanos que trabalhavam na TV Globo como representantes do Time-Life. João Calmon em seu livro de 1999, conta que desse episódio nasceu a campanha contra a invasão estrangeira na mídia brasileira.

Além de ser contra a presença do capital internacional, os Diários Associados brigavam diretamente com a revista Life, já que editavam O Cruzeiro em espanhol para distribuição na América Latina. A revista Life Internacional era sua grande concorrente e conseguia muitos anúncios, enquanto a revista de Assis Chateaubriand só dava prejuízos.

Também colaborou para a campanha um almoço ocorrido entre Roberto Marinho e João Calmon, como este relata em sua autobiografia.

"(Marinho) deu-me várias informações sobre as suas ligações com o grupo norte-americano e expôs-me também seus planos para o lançamento de uma revista noticiosa semanal. Durante bom tempo, na qualidade de presidente da Abert e do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas, procurei fazer com que Roberto Marinho exibisse, publicamente, os documentos relativos a sua transação com o grupo". (conta Calmon em seu livro de 1999, p. 186).

Voltando a prisão dos membros da Time-Life que trabalhavam na Rede Globo, a partir do depoimento de um deles descobriu-se a existência de um contrato entre a Globo e o Time-Life. Segundo João Calmon em seu livro de 1999, como mostrava o governador carioca Carlos Lacerda, isso violava o regulamento dos Serviços de Radiodifusão, o decreto 52.795, que proibia ser firmado qualquer convênio, acordo ou ajuste relativo à exploração de serviços de teledifusão sem prévia autorização do Contel. A denúncia de Carlos Lacerda foi enviada ao Ministério da Justiça em 15 de junho de 1965, três meses após a inauguração da Tv Globo do Rio de Janeiro.

Foi aberta na Câmara dos Deputados, em Brasília, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a relação entre os grupos, que começou a atuar em março de 1966, sob a presidência do deputado Roberto Saturnino.

Borgerth em seu livro de 2003, relata que a pessoa que encorajou Roberto Marinho a entrar no ramo da televisão foi Andrew Heiskell, chairman do Time Inc. E que, na verdade, a campanha nacionalista da Rede Tupi fora realizada por que tentativas de associações dos Diários Associados com outras empresas norte-americanos não deram resultados.

"Roberto Marinho aventurou-se, às vésperas de seu sexagésimo aniversário, a fazer sua televisão, em associação com o Time-life, inaugurando a TV Globo em 1965, ano em que faria 61 anos. (...) Sua associação com o Time-Life deflagrou uma violenta campanha" "nacionalista" promovida pelos Diários Associados, denunciando a presença de capital estrangeiro na radiodifusão, então proibida pela Constituição. Hoje, doutor Roberto Marinho seria enaltecido. Naquela data, a TV Tupi tinha tentado a mesma coisa com a CBS e a NBC, sem resultados. Daí, o extremado nacionalismo". (afirma Borgerth em seu livro de 2003, p. 29-30).

João Calmon denominou como "Invasão Branca" o acordo. A preocupação ainda era outra: naquela época de Guerra Fria e ditadura militar, os Diários Associados ainda poderiam prejudicar sua reputação de anticomunistas, passando a criticar um grupo norte-americano.

"A documentação que João Calmon reuniu sobre o acordo TV Globo/Time-Life convenceu-o de que havia uma violação flagrante ao artigo 160 da Constituição do Brasil, que proibia a propriedade de empresas jornalísticas a estrangeiros. (...) Em fins de 1966, o Ministro da Justiça, pressionado pela campanha dos Diários Associados, dispunha-se a promover "rigorosa investigação" a respeito das denúncias sobre a infiltração de grupos estrangeiros na imprensa, rádio e televisão do país ". (Carneiro em seu livro de 1999, p.436).

Essas e outras denúncias foram analisadas e investigadas, seguidas de inúmeras reclamações dos Diários Associados em extensos artigos e reportagens nos veículos da rede. Mas o feitiço, virou contra o feiticeiro.

Borgerth em seu livro de 2003, explica que a campanha dos Diários Associados impressionou os militares, então nacionalistas, que resultou no decreto que limitava o número de canais para cada grupo, impedindo a Tupi de seguir o mesmo caminho da TV Globo. Além disso, Borgerth explica o acordo Time-Life e a rescisão:

" Na realidade, a contribuição do Time-Life não passou de um financiamento – sem juros e sem prazo, da escolha de equipamentos insuficientes e de um totalmente novo, bonito e inadequado projeto arquitetônico que em nada contribuiu para a TV Globo, cujos concorrentes achavam-se instalados em velhos cassinos ou cinemas caindo aos pedaços, como viríamos a estar em São Paulo e, até certo ponto, no Rio, o que em nada perturbava e jamais perturbou um único telespectador. Time-Life nada sabia do Brasil, o que não era desdouro nenhum; fracassaram em todos os lugares onde se meterem em televisão aberta, nos Estados Unidos, inclusive, onde tinham as cinco emissoras permitidas por lei em "grandes" metrópoles, a saber, se não me falha a minha falha memória: Buffalo, Grand Rapids, San Antonio, Denver e San Diego! Este ponto de exclamação tem duplo significado, o outro sendo o fato de que San Diego teria uma importância fundamental para o futuro da TV Globo ". (Borgerth em seu livro de 2003, p.30-31).

Ainda segundo Borgerth, após ‘’jogar fora’’ pouco mais de US$ 5 milhões (1965, 1966 e 1967) na operação, Time desistiu. Mais do que desistiu, queriam ir embora de qualquer jeito. Já no governo Médici, segundo João Calmon em seu livro de 1999, foram rescindidos os acordos entre Roberto Marinho e o grupo Time-Life. Como havia no contrato uma cláusula prevendo a desistência de qualquer das partes, Roberto Marinho procurou o presidente e lamentou-se dos contratempos que lhe trouxera a campanha contra o acordo.

" Em 1972, Roberto Marinho devolveu-lhes parte do investimento, tão pequena que eu tenho vergonha de escrever aqui, e, salvo erro, sem juros, e nunca mais se falou nisso. Acredite se quiser". (Borgerth em seu livro de 2003, p.39).

Ao deixar a presidência, em 1967, Castelo Branco, segundo Carneiro em seu livro de 1999, deixou um ‘abacaxi’ para o Marechal Costa e Silva, seu sucessor. Baixou um decreto-lei limitando o número de televisões a cada grupo, atingindo diretamente os Diários Associados, proprietários de uma grande cadeia de emissoras no País. Assis Chateaubriand escrevia, em artigos, que existia uma conspiração para destruir os Diários Associados.

Fernando Morais em seu livro de 1994, afirma que ou Assis Chateaubriand delirava ou, de fato, o mundo se juntara para reduzir a pó a cadeia que ele levara quase meio século para edificar. No artigo 12 do decreto, Castelo limitou a cinco o número de estações por grupo. Naquela data, segundo Morais, começava a desmoronar a rede Associada de televisão, cujo prestígio e poder seriam ocupados, anos depois, exatamente pela Rede Globo de Televisão. Era a primeira grande derrota de Assis Chateaubriand.

A partir desse momento, a batalha contra o acordo Globo/Time-Life terminou, os Diários Associados, oficialmente, não abordaram mais o assunto, após dois anos de grande polêmica. 



Video: Muito Além do Cidadão Kane - A Verdadeira História da Rede Globo - Documentário Completo:

Redição: ideiaquilvicenda
Fontes:
en,wilkipedia.org
http://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-geral/historia-da-tv-tupi

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